2 de fev. de 2012

As coisas que aprendi nos discos

Vos escrevo sentada, na minha segura residência em Cachoeira. Troquei a cadeira, peguei uma mais confortável pra que a coisa fluísse melhor. Queria gostar de cigarros e de whisky, tornaria a cena mais patética ainda.
Há tanto para ser dito, há tantas feridas a serem mexidas.
Sou de uma geração que cresceu online - mIRC, bate papo da Uol, Msn, Orkut, Twitter e, por fim, o atual amado e adorado Facebook. Só o nome dessa rede social renderia um artigo acadêmico, mas o problema não está na rede, e sim nos peixes.
Peixinhos que vivem atrelados a um cardume sem guia, que nada fundo e fundo nos mares "internetescos", usando seus dedinhos jovens para teclar, clicar e desenvolver LER(lesão por esforço repetitivo). Peixinhos que tomam leite com nescau, gritam "Manhê, tô com sede". Somos tão preguiçosos, tão acomodados. Somos porque meu 'perfil' se enquadra nessa trupe infalível.
Reclamar é a coisa mais incrível que os seres humanos aprenderam a fazer - reclamamos do frio, do calor, da chuva, do preço das coisas, do salário baixo, do trânsito, da demora pra atenderem o telefone e, lógico, dos políticos que nós elegemos.
Bem, mas o que as unhas tem a ver com os cadarços?
Essa geração online não vai às ruas, não pinta a cara, não faz cartaz, não apanha da PM como nossos pais. Essa geração também não assiste horário político, não vai a comício, não vivência campanha, não conhece candidatos.
Mas aí me vem uma greve dos Policiais Militares da Bahia, um arrastão, um caos municipal e... mágica! Somos politizados, vamos lutar. Oi? Vamos falar mal do prefeito porque é o prefeito. Oi? Vamos reclamar porque as padarias estão fechadas. Oi? Vamos ficar em pânico porque os nossos carrões podem ser roubados na porta da faculdade. OOOOOOOOOOOOOOI?
Chego a transpirar com isso. Tava tudo ali. Até 12h atrás, pouco importava. Feira de Santana teve 34 homicídios em janeiro de 2012. Alguém se manifestou? Assaltos acontecem todos os dias em inúmeras partes da cidade.
E, pra completar com chave de ouro, esperava-se o Feiroeste exibido em rede nacional. Acorda,bebê. O JN no ar tá preocupado com copa do mundo, com outras coisas.
Hoje todo mundo virou jornalista. Cada um tinha uma informação nova de um tiroteio, um morto, um assalto, um 'arrastão' novo, enfim. Aí vieram discursos sobre a mídia manipuladora (no maior estilo high school)(e eu aqui tendo crises de risos), sobre como a Globo não publica notícias importantes e blábláblá.
Sabe o que me dá náusea?  É tudo virtual, é tudo online.

Somos jovens, somos saudáveis.
Vamos gritar de verdade, por favor?










2 comentários:

Thainá Freitas disse...

As mesmas pessoas que estavam falando da Luiza no Canadá, por sinal...

Lina Antunes disse...

ai Naaaaaaaaaaaai!! acabei de ler esse!! lindo lindo!!!! exatamente isso!!! é incrível pq a rede induz a uma obrigação de ser politicamente engajada, eventualmente culta, circunstancialmente engraçada e dona de uma vida-badalada-de-fazer-inveja. Nossa sociedade fordista mecânica foi substituída por essa vivida nas redes sociais. As pessoas pensam, mas, só se isso for postado, caso contrário o pensamento não existe.
Mas, sinceramente nem me dou ao trabalho de reclamar, é uma realidade q em minha opinião não aceita mudança. Como Seu Lyotard previu todo o conhecimento só existiria como informação a ser processada.
Contudo, bem q poderíamos usar essa nossa realidade de uma outra forma... bom, o fato mais importante é q agora ninguém mais lembra como vivemos sem segurança, como os policias são mal remunerados!! AAhh eu to doida!!! Arrumaram um bode expiatório (não entrando no crédito do q ele deve) pra carregar toda a culpa - pela greve, pela falta de segurança, pelo prefeito incompetente, pela corrupção no Brasil, pela fome no mundo... Só pode! - e fazer de todo o grito vão, isso incluir os processados em bytes de informação, claaaaaaaro!!!!