9 de nov. de 2011

Ao vento

Que coisa mais cruel ensinar uma criança a falar.  Tira-lhe a inocência e o mistério do silêncio e impõe-lhe o veneno dos verbos. Quando os anjinhos dizem 'papa' ou 'mama', é um orgulho só; uma pena que em alguns anos aprendam a falar palavrões, fazer chantagem emocional e tudo mais.
Palavras são brinquedos,sabe? Criamos novas, criamos novos significados, moldamos as que já existem, falamos bobagens. Mas podem também ser armas. Cruéis. Machucam,sabe? Palavra escrita, falada...
Ah,palavra, quão perigosa tu és... Um simples monossílabo 'não' muda tudo. Eu não matei ninguém nesse inverno. É bem verdade, mas se não houvesse o tal negador ali no meio pessoas se afastariam de mim com medo. Ele não mentiu pra você. Que bom, afinal... Bendito não. Ou maldito às vezes.
Às vezes despejamos palavras, às vezes faltam-nos palavras. Ah, palavras... Quem dera ter o dom de fazer arte com vocês. Quem dera.


4 de nov. de 2011

Em paz, com Deus

Me encontro há dias tentando entender o sentido e a aplicação da palavra "paz" nos meus dias, na minha vida. E ainda não consegui uma resposta digna.
Andei viajando, pensando em mim e no mundo. No mundo e em mim. Em países do oriente médio, como a Líbia, por exemplo, ou qualquer país em guerra civil, a ideia de paz vem sempre ligada com o princípio da não violência(salve Gandhi!). Em morros e favelas brasileiros, a compreensão também é a mesma - não violência, não ameaça.
No Hospital Geral Clériston Andrade, um dia de paz talvez seja um dia estável, com poucas ou nenhuma(meio impossível,mas vai) entrada de paciente gravíssimo. O trânsito em paz é um trânsito livre, onde carros não precisam esperar e pessoas não precisam temer. Uma cirurgia ou uma operação policial ocorrem em paz quando tudo dá certo e nada extraordinário acontece.
Seria, então, a paz uma coisa ordinária, comum? Convencionou-se uma ideologia de naturalidade das coisas que nos fez acreditar que esse tal fluído comum, não violento, estável e livre das coisas seja o sinônimo de paz. Mas paz é isso mesmo? Estabilidade, ordinariedade. Que  tédio,não? Será que a paz é chata?

Penso em mim e nas vezes em que tive (e tenho) paz e como cheguei até ela. Noto que a minha paz vem com o esquecimento. Esquecer de todas as adultices que nos ensinam (e nos adestram) é estar em paz; esquecer de verdade e deixar a mente livre pra buscar as coisas boas na memória. Esquecer que amanhã tem aula cedo, que há contas a pagar, que alguém ficou doente, ou desempregado, esquecer as cascavéis da beira da estrada(não sem antes pisar na cabeça delas!), esquecer a roupa suja, a DR, a cotação do dólar, o que for. Esquecer dos outros me deixa em paz, esquecer de mim um pouquinho também. Esquecer de tudo, e eu falo de TUDO mesmo.
Na verdade, só as crianças podem explicar bem o que é ter paz. Não há preocupações, dilemas ou cobranças sociais. Só precisam tomar banho às 17h e fazer a lição de casa nos anos mais avançados. Quando eu penso como uma criança, eu entendo a paz.
Minha paz chega até o meu lugar com o vazio de preocupações, tensões, perguntas, curiosidades. Paz é sossego. Paz é paz,pô.

Mas o que é paz pra você?